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terça-feira, 2 de setembro de 2008

PIB-GV - 75ANOS

PASTORAL:

OS DESAFIOS DA IGREJA NA ATUALIDADE

Usando a idéia do rabino, Abraham Joshua Heschel, citado por Brenam Manning, em seu excelente livro “O Evangelho Maltrapilho”, diria que o maior desafio da igreja na atualidade, é voltar ao assombro. Isso mesmo! De modo geral, o mundo perdeu o senso e a capacidade de assombro, e a igreja de Cristo, por sua vez, também o perdeu. Já não nos assombramos! Já não perdemos o fôlego diante de um Arco-íris, ou de um canarinho a cantar, o pôr do sol na Ibituruna não nos toca, o rio doce já não nos seduz, temos a capacidade de morar ao lado dele, e passar um ano sem olhar para ele, a “necessidade do necessitado” não agride a nossa consciência, não compramos lenços, pois não choramos mais, não reivindicamos, pois não lutamos, deixamos de ser ‘companheiros’, perdemos as idéias, a idéia e a ideologia; nem mais gritamos, acabou a voz e calaram-se os profetas, deixamos, inclusive, de nos ajoelharmos, como antes... O que aconteceu? Crescemos! Ficamos maiores e todo o resto ficou menor, menos impressionante. Tornamo-nos apáticos, sofisticados, cheios de sabedoria do mundo. A criatura tornou-se maior que o criador. Transformamo-nos numa elite, para não dizer, burguesia eclesiástica, detentores dos meios de produção do “entretenimento gospel” e na maioria das vezes, do lucro da produção. À medida que a civilização avança, e a igreja cresce e agrega novos métodos e valores, o senso de assombro declina. Senão nos assombramos: não oramos, não jejuamos, não cremos... Para quê? Se o que é certo é o que da certo! Assim caminha a humanidade...

Ficamos tão preocupados conosco, com as palavras que falamos, com os planos e projetos que concebemos, com a ditadura da beleza, com a guerra do crescimento, com os números e as cifras, que nos tornamos imunes a glória da criação. Mal notamos a plasticidade do orvalho, nem percebemos as estrelas do céu, ignoramos o assovio, que estranho; de repente, descubro isso também, não temos assoviado. Estamos tão acostumados ao embalo do embalado que nunca paramos para pensar que o que está na embalagem, brotou da terra, nasceu pela liberalidade e bondade da criação de Deus. Acostumamos com as transformações ordinárias e comuns, porque o discurso diz que só vale o extraordinário e o sobrenatural, esquecendo-se dos notáveis pais da fé que vislumbravam o novo e o grande num simples musgo que crescia pela manhã depois de uma noite chuvosa. Desdenhamos das conversões, usurpamos a ação livre do Espírito Santo e a subjugamos a um emaranhado de estratégias, como que o vento fosse prisioneiro dele mesmo, esquecendo-nos que ele é livre e por isso, sopra onde quer. Perdemos a experiência do assombro, da contemplação e da maravilha.

Igreja! Voltemos ao assombro, eis o nosso maior desafio! Voltar a chorar, a amar, a adorar, a meditar, a lutar, voltar à simplicidade, simplesmente, voltar. E, nesse exercício livre da fé, experimentar no ardor das fornalhas, nos fios das navalhas, nas popas dos barcos nas tempestades, nos vales sombrios e escuros, nos pântanos e lamaçais, a maravilhosa e inefável graça de Cristo.

Com assombro,

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