Minha cidade natal, Niterói, foi abalada pelas últimas enchentes. No agora conhecido Morro do Bumba, na manhã do dia seguinte ao terrível desastre, mexendo os escombros, um morador encontra um livro quase inteiramente destruído, mais preservado o seu título, cujo o vitimado mostra a câmera e podemos lê-lo: Porque coisas ruins acontecem se Deus é bom?
O homem de hoje tem muitas razões para se tornar cético e sem expectativas melhores quanto ao seu futuro – ou mesmo quanto, o que é muito pior, ao próprio presente. Este vazio pode ser muito perigoso, desastroso até, quando o homem num desespero total, associa este caos, ao abandono de Deus deste mundo, projetando o que há de pior no homem, falta de fé, no que há de melhor em Deus, o seu amor. Assim o homem não consegue crer no amor de Deus, ao olhar para o mundo ou para si mesmo. E consequentemente, se perde... e se mantém perdido, sem rumo. Ou numa linguagem bíblica: sem Deus e sem esperança no mundo.
Se o pecado é errar o alvo – para o homem pós-moderno, infelizmente, falta-lhe até mesmo, um alvo. Paulo, aos efésios, no capítulo dois, faz um retrato desse homem e mostra-o escravo ao afirmar: "Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos quais costumavam viver, quando seguiam a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem na desobediência. Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira". Mas se a este homem falta até mesmo um alvo. Para Deus não, o próprio homem é o alvo de Deus. Nós somos o alvo do seu amor e de sua graça. Na continuação do capítulo 2 da carta aos efésios, o apóstolo legitima esse amor mostrando nossa posição em Cristo: "Mas Deus que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em transgressões".
O sofrimento humano e a bondade de Deus é tema recorrente na história do pensamento cristão. Muitos textos foram produzidos pelas mentes mais brilhantes da cristandade. Não é tema fácil para reflexão. A certeza que se tem, é que de alguma forma, cada um de nós já o experimentou. Nascemos sofrendo e morremos em sofrimento. As Escrituras descrevem de várias maneiras como o cristão deve olhar para as tragédias pessoais, nacionais e mundiais.O melhor de tudo é que fomos presenteados com a mente de Cristo, nesse processo cirúrgico de transformação espiritual. Com a mente de Cristo, vem o olhar de Cristo. O cristão é aquele que vive o presente com gratidão e adoração por um fato passado, a redenção pela cruz, e na expectativa de um futuro prometido, o Reino que virá. É importante e fundamental que o cristão tenha uma visão bem clara baseada na Palavra de Deus do presente paradoxo do Reino que já veio, e do Reino que virá. Que estamos vivendo um tempo intermediário, entre a primeira e a segunda vinda de Cristo a esta Terra. Por isso, todo o sofrimento que passamos é fruto de duas realidades: o tempo intermediário e a rebeldia espiritual do homem, traduzida pela queda e suas conseqüências. Estes fatos acabam gerando uma verdadeira tensão entre o já e o ainda não; entre o objetivo e o subjetivo; entre o que já é e o que será. John Stott afirma que “para o cristianismo do Novo Testamento, é fundamental a perspectiva de que nós estamos vivendo “tempos intermediários” entre o passado e o futuro, entre a primeira e a segunda vindas de Cristo, entre o que foi feito e o que resta por fazer, entre a realidade presente o destino futuro, entre o Reio que veio e o Reino que virá, entre o “já” e em relação a instauração do Reino e o ainda “não” em relação a sua consumação”. Somente a graça de Deus pode nos dar condições de equilíbrio e moderação para vivermos este período intermediários. O que prova o amor de Deus por nós, se coisas ruins acontecem? Há várias reflexões possíveis, porém, tenhamos a clareza de dois fatos irrefutáveis:
1. Deus não precisa provar, absolutamente, nada;
2. Mesmo assim Ele provou.
“Deus deu prova do seu amor por nós: em que Cristo morreu por nós, quando ainda éramos pecadores” Rom. 5.8
O Apóstolo Paulo faz quatro perguntas que nos ajudam a entender as provas e a certeza de que Deus nos ama. Dentre as quatro, a primeira é a revelação cabal e a prova intencional do grande amor com que Ele nos amou. "SE DEUS É POR NÓS, QUEM SERÁ CONTRA NÓS?" Paulo apresenta então três razões pelas quais ele crê que Deus é por nós. São três verdadeiros motivos pelos quais você pode acreditar que Deus está do seu lado. Que você é o alvo preferencial do amor de Deus:
1. Deus não poupou o seu próprio Filho
2. Ele entregou o seu Filho por nós (desistiu dele)
3. Tendo dado o seu Filho, não nos dará todas as outras coisas?
Coisas ruins podem acontecer a pessoas boas e a pessoas más e ainda assim, o amor de Deus por nós se manterá como o é, imutável e real.
Pr. José Marcelo